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sábado, 16 de julho de 2011

CONFIÁVEL? Reincidente, 'Correio' já divulgou acordo fechado sobre PCS que jamais aconteceu

Jornal, que jamais reconheceu o erro do ano passado, voltou a publicar notícia sobre suposta proposta sem apresentar fontes ou dados confiáveis
Quem levar a sério a credibilidade das informações sobre o PCS-4 divulgadas pelo “Correio Braziliense” deve conferir o contracheque para ver se uma ou duas parcelas da revisão de cargos e salários já não estão lá. Isto porque, no dia 1º de julho de 2010, este diário de Brasília divulgava com destaque que o acordo entre Executivo e Judiciário para aprovar o PL 6613/2009 já estava fechado e que a primeira parcela sairia em janeiro de 2011, notícia que ainda pode ser acessada no site do “Correio”*.

A ‘barriga’, jargão jornalístico para notícia inverídica, vem novamente à tona, um ano depois, por conta dos textos publicados pelo jornal na segunda (11) e terça-feira (12). Neles, está dito que o Ministério do Planejamento apresentou uma proposta às direções dos sindicatos e associações e esta teria sido recusada porque significava converter a remuneração em subsídio. A federação nacional (Fenajufe) divulgou nota na qual afirma que isso jamais ocorreu e que, se viesse a acontecer, a proposta teria sido submetido aos fóruns sindicais da categoria.
Textos não trazem fontes
A estranha notícia não cita a fonte da informação, mas, como no caso do acordo jamais firmado do ano passado, dá como certo que a tal proposta existiu. Os sindicatos e a federação veem na reportagem do jornal algo ‘plantado’ e parte de uma campanha para que não haja reajuste e os salários sigam congelados.

O texto de 2010, assinado pelo jornalista Marcone Gonçalves, começa afirmando que “As áreas técnicas do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Ministério do Planejamento já fecharam um acordo em torno do aumento para os servidores do Judiciário, em greve há mais de um mês”.  Prossegue, sem sequer usar o verbo na condicional e também sem citar as fontes da suposta informação: “Os servidores federais da Justiça vão receber os 56% do aumento pretendido, mas só a partir de janeiro do ano que vem e de forma escalonada”.

Sobre a forma do parcelamento, o texto indica que isso deveria ser resolvido na audiência entre o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e do STF, Cezar Peluso, que aconteceria naquele dia. O resultado desse encontro é mais do que conhecido: não saiu acordo algum, as discussões foram jogadas para depois das eleições e o presidente do Supremo talvez esteja aguardando até hoje o convite de Lula para retomar as discussões.  

Jornal fala em reajuste linear, que não existe no projeto
Na notícia publicada na segunda-feira (11), a jornalista Ana D’Angelo destaca a existência de “remunerações elevadas” no Judiciário, acima das de magistrados. Diz ter tido acesso exclusivo à folha salarial, mas não assinala o número de servidores que receberiam os altos salários. Opta pela imprecisão ao falar em dezenas e evita contextualizar este suposto dado, que poderia significar menos de 0,1% do quadro de pessoal, que supera os 100 mil trabalhadores em todo país.

Mais adiante, o texto traz outra ‘informação’ cuja falsidade é de fácil comprovação: diz que os “servidores do Judiciário reivindicam reajuste linear de 56%”. O plano de cargos e salários prevê reajustes diferenciados e não aplica índice linear – algo, aliás, que sucessivos governos vetam desde 1995. O percentual de aumento sobre a folha gira em torno de 26%, o que mal cobre a inflação acumulada desde 2006, data da aprovação da última revisão.

O periódico cita ainda que o governo “oferece como alternativa o pagamento em forma de subsídio”, mas não explica onde isso foi ofertado aos servidores. O Planejamento, aliás, se recusa a conversar com representantes da categoria nas reuniões de negociação conjuntas instaladas pelo governo, sob a alegação de que não pode se envolver em questões salariais ligadas a outro poder.
Ajufe volta a atacar servidores
A jornalista também menciona uma suposta proposta de subsídio que teria sido apresentada pelo Planejamento aos sindicatos e associações de servidores em 2010, recusada por estes. Não há, porém, notícia desta proposta e nem mesmo o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), um dos autores da emenda do subsídio ao PL 6613 na Câmara, diz ter conhecimento dela. Perguntado sobre se em algum momento o governo apresentou uma proposta de subsídio, o deputado apenas mencionou que o então ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, sinalizou em algumas reuniões que esse seria um caminho para as negociações, mas não apresentou proposta. A breve entrevista da reportagem com Reginaldo Lopes, por telefone, ocorreu há cerca de dois meses. 

Para tentar sustentar seus argumentos contra os servidores, acusados genericamente de receber ‘supersalários’, o “Correio Braziliense” buscou socorro no presidente da Ajufe, Gabriel Wedy: “É uma distorção gravíssima. Em lugar algum do mundo, o servidor do órgão ganha mais que o magistrado, que é o agente político, investido de autoridade", disse o magistrado. A Ajufe esteve na linha de frente do movimento contra qualquer reajuste para os servidores que reuniu, no final de 2009, entidades de juízes e procuradores. Enquanto tentavam impedir que o Supremo Tribunal Federal enviasse o projeto de lei dos servidores ao Congresso Nacional, estas associações articulavam para obter mais um aumento salarial para juízes e procuradores.
*A notícia do acordo e do reajuste que não ocorreu pode ser acessada no endereço:www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2010/07/01/internas_economia,200306/index.shtml
Por Hélcio Duarte Filho
Luta Fenajufe Notícias
Sexta-feira, 15 de julho de 2011